quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

O processo de greve foi vitorioso

Nota política da gestão "em luta !" do DCE
O punho cerrado foi adotado pelo DCE como forma de ilustrar a luta estudantil

O DCE, como parte integrante, ativa e construtora do processo de greve da Unifesp em 2010, sente-se obrigado a fazer breves considerações avaliativas que exponham sua forma de pensar, de agir e de analisar.

Em primeiro lugar, é necessário que se deixe bem claro a posição convicta da gestão "em luta!" do DCE-Unifesp de que não se conquista nada pela via institucional e não se luta através da burocracia. Em contrapartida, acreditamos no materialismo, na contradição, na praxis e no poder popular, portanto, defendemos a mobilização estudantil.

Ouvimos argumentos vindos por parte do militante do PSDB Thiago Rocha em Guarulhos, que tentavam tornar a greve uma forma ilegítima de luta, propondo em seu lugar a atuação institucional no Consu. Ora, se a representatividade do Consu segue a divisão injusta de 70% para professores e 30% divididos entre estudantes e trabalhadores, é claro que não há condições de atingir conquistas materiais para a comunidade acadêmica, afinal, as condições de enfrentamento são insuportáveis. A partir daí, vemos como essa proposta está sustentada numa falácia e só serve aos interesses da reitoria.

É nesse sentido, que defendemos a forma de luta adotada em Guarulhos e Santos, a greve conseguiu avanços políticos jamais conquistados antes, pressionou a reitoria com legitimidade e em condições de igualdade, deu um salto qualitativo no que se refere a problemas organizacionais do movimento e trouxe maior amplitude às visões políticas dos estudantes em luta.

A greve em Santos teve unidade estudantil, apoio docente e assim teve maiores conquistas, no entanto, não tudo que se almejava, mesmo assim, o movimento avançou e deliberou tranquilamente a volta às aulas depois de um processo de lutas importantíssimo. O DCE, por questões físicas e materiais não conseguiu, embora fosse o seu desejo, acompanhar mais de perto as contradições internas do movimento em Santos, contribuindo para resolvê-las e para avançar nas conquistas. No entanto, temos a certeza de que a colaboração mútua entre o ME organizado em Santos e o DCE é imprescindível, já existe e terá vida longa.

A greve em Guarulhos também negociou com o reitor no Campus Guarulhos - demonstração do avanço organizacional e de legitimidade do movimento -, conquistou pouca coisa materialmente, mas saltou qualitativamente em vários aspectos. No entanto, é necessário que se aponte alguns problemas surgidos.

Primeiramente, considere-se que após a deliberação da paralisação, formou-se um comando de greve, como fórum articulador das ações e deliberações do movimento grevista em Guarulhos, o que caracteriza maturidade política e organizacional, a partir daí diversas ações foram organizadas e empreendidas com sucessso, pressionando a burocracia e demonstrando  força do movimento estudantil.

No entanto, a contradição é algo presente na sociedade e que não pode ser ignorado, nem deixando de lado uma situação contraditória, nem realizando ações paliativas e virando as costas. Há contradições diversas na greve em nossa avaliação e vamos numerá-las e dividi-las em categorias.

Em primeiro lugar, há as contradições antagônicas e a contradição antagônica maior é entre as classes - em nosso modo de produção, o capitalismo, esta contradição está expressa na luta entre burguesia e proletariado - e esta contradição quando pautada, desvenda que o Reuni e as ações da reitoria estão subordinadas ao Capital e que por esse motivo, a educação-mercadoria  nos é imposta.

Esta contradição maior submete as contradições particulares do cotidiano de cada indivíduo inserido nessa mesma conjuntura, logo, nessa mesma lógica, a partir daí, lista-se uma série de contradições particulares, encontra-se a contradição geral e discute-se suas soluções, tornando estas particularidades reivindicações. 

Há algum tipo de contradição não antagônica, isto é, conciliável ? Sim, há as contradições no seio do próprio movimento, e ao nosso ver, este tipo de contradição não é antagônica e pode ser negociada com maior tranquilidade, por isso, consideramos que os distúrbios ocorridos nas Assembleias deveriam ter sido identificados e sanados antes que tomassem proporções maiores, mas isso não aconteceu, o que permitiu que os ideólogos da reação pudessem surrupiar uns tantos gatos pingados que se transformaram em 231 pessoas que optaram pelo fim da greve em Guarulhos na última Assembleia.

Assim, definimos as contradições em gerais e particulares, sendo que estas podem ser divididas em antagônicas e conciliáveis. A contradição entre reitoria e estudantes não é antagônica, pois a universidade é policlassista - no caso do capitalismo biclassista - e seus embates devem ser negociados. No entanto, a conjuntura exige do movimento estudantil organizado a tomada de ações que permitam que essas contradições sejam sanadas e tais ações não podem ser tomadas através da instituciconalidade, não porque não se quer, mas porque a burocracia não abre os espaços democráticos necessários.

A contradição conciliável  surgiu com um grupo de formandos que se preocupavam com o adiamento de sua formatura e consideravam que iam perder o semestre e que não iriam receber seu diploma, portanto, eram contra a greve. O comando se preocupou em argumentar contra e vencê-los tranquilamente nas Assembleias, afinal, não representavam um problema efetivo para a continuidade das ações da greve. Esse probleminha, na medida que não se sentiu contemplado com o posicionamento do comando de greve começa a criar lideranças e elege seus ideólogos, militantes do PSDB  na universidade.

Estes tentaram sabotar Assembleias por meio da força, da gritaria e da agressão, o comando foi inflexível; tentaram se apoderar da mesa de condução da Assembleia, o comando foi irredutível; ameaçaram furar greve e só não conseguiram pela impossibilidade física de adentrar as salas de aula devido ao piquete, o comando novamente foi inflexível.

Na penúltima Assembleia do processo de greve, a mesa finalmente foi apoderada pelas lideranças do PSDB, quando foi aprovado indicativo de fim de greve, fim que foi aprovado na Assembleia seguinte, em que a mesa foi recuperada pelos organizadores do comando de greve, que já estava enfraquecido com a debandada do CAHIS desde a penúltima Assembleia, sendo que a proposta de indicativo de fim de greve partiu desse centro acadêmico.

Ora, o DCE considera que o centro acadêmico de história teve importante papel na construção da greve e compartilha de diversas opiniões e alinhamento político dessa entidade, por isso os chama de companheiros, no entanto, discorda firmemente da posição adotada, que apenas fortaleceu a reação interna. Ao invés de contribuir para sanar a contradição conciliável que surgiu em frente ao comando de greve, a fortaleceu e permitiu que sua proposta, lançada pelo próprio CAHIS, fosse deliberada e assim, a greve fosse finalizada.

Consideramos que esse processo de lutas teve inestimável valor para a experiência, criatividade, organização, política e ideologia dos estudantes. Esse processo de lutas mostrou que a análise concreta da realidade concreta faz com que percebamos a existência de contradições, que podem se dividir em antagônicas e conciliáveis e que o manejo com cada uma delas deve ser diferenciado; mostrou que os desmando da reitoria não serão tolerados passivamente e que os estudantes armados de ideologia e organização podem atingir seus objetivos e conquistar aquilo que almejam, não aceitando a castração ditatorial da reitoria e, assim, dando o exemplo à classe trabalhadora, mostrando  esta que a conquista do socialismo está intrínseca à luta pela universidade popular.

A perspectiva do movimento estudantil na Unifesp agora é a construção do II Forum Estudantil da Unifesp, única ferramenta capaz de unificar um programa e formas de ação e luta para os estudantes em luta, o que impedirá que a inércia e a passividade de 2009 se repitam; A construção da calourada também é importantíssima para agregar novos estudantes às lutas e mobilizações e o congresso do DCE que irá revitalizar a organização do movimento estudantil.

A nossa palavra de ordem agora é unidade programática já !


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